Uma rua qualquer - Rage of the Titans

Aquele garoto... Por quê ele era tão teimoso? Esses dois não eram oponentes para eles, pelo pouco que tinha visto da luta, que nem mesmo poderia se chamar de luta mais. Era simplesmente um massacre. ... Mas onde inquisidores tão poderosos estavam quando a região estava sendo infestada por paradoxos e Alaya chorava? Onde estavam enquanto Justine tapava os buracos? Onde estavam quando o padre precisou se sacrificar?! Era fácil falar que estavam fazendo um favor ao mundo, purificando-o agora, ao se livrar de uma garota moribunda que estava assim por ter tentado fazer o serviço deles... Homens da lei eram piores do que os pecadores... Ouvia gritos, tiros, aparecimentos e desaparecimentos de seu radar.

"O plano é vencer?" Não precisava de muito para cair no chão pois o trincar de suas lâminas era suficiente para desequilibra-la. O carmesim respingava no chão descendo pelo braço atingindo. A face erguida, direcionada a dupla aliada carregava um sorriso gentil, devidamente humano, delineado nos lábios róseos e sujos. Não queria morrer assim... Mas era melhor parar enquanto aquele um terço de si ainda era imaculado; enquanto possuía mais honra em suas ações do que seus antagonistas. Não era?

"Sim... O plano é vencer."

Não. Mikail tornou-se um demônio para fazer o que era certo. Adrian tornou-se um monstro para proteger o futuro. Aquele tipo de determinação... Respeitava, e seria sua. Apoiou o pé direito no chão, mantendo-se ajoelhada tal qual um cavaleiro. Sangue escorria-lhe a boca. Ela então desfez o sorriso para fitar diretamente seu algoz por cima do elmo.

- É verdade. Eu não tenho outra escolha. É meu destino cair, eu o aceitei desde que ganhei meu primeiro sonho profético... - Naquele momento ignorava a própria dor física, suas vontades, parte seus princípios.

- É o destino de todos nós perecer nas mãos de Brunestud. - Fazia-se audível, firme e clara. Uma parcela de indignação tornava a subir sobre si; o reconhecimento dos fatos. Do inimigo maior, o motivo pelo qual abdicaria até sua última gota de orgulho. Lembrou-se de seu último sonho profético relacionado a Adrian... A lâmina vermelha capaz de derrubar qualquer coisa... Nas mãos de um Aristotélico imortal no sentido mais literal da palavra.

- No fim, sua vitória sobre nós é insignificante. Mesmo nossa vitória sobre vocês seria... Insignificante. - E a experiência de hoje reforçava isso. Um mero deslize que não era seu deixava-os mais distantes da vitória. Fechou os olhos.

- Meu objetivo principal não é impedir vocês. Não sou oponente, é simples para vocês me matarem mesmo no ápice do meu poder. Meu objetivo é conter as forças de Brunestud antes que seja tarde, enquanto ainda é possível. - Se seu interesse fosse acabar com tudo de fato não seria mais fácil juntar-se ao lado vencedor e rir sobre as cinzas da humanidade? Estaria cumprindo com a vontade das Estrelas Umbrais, cujo o poder tomava emprestado para fins quase totalmente opostos.

- E quando digo meu, estou referindo a mim, Evangeline. O receptáculo. Se Velber tivesse algum controle sobre mim e não eu sobre ela, não tenham dúvidas que eu estaria apenas observando o mundo queimar de camarote, não acabada por ter tentado impedir... Isso. - No "isso" ela olhava para os lados, para a catástrofe, e suspirava pesadamente. Por mais ridículo que pudesse soar... Deveria ter dado ouvidos a seu Maken.

A lâmina impiedosa da executora fazia seu caminho em direção a frágil – porém indômita – condenada que parecia aceitar seu destino de cabeça erguida após revoltosamente expor um interessante conto. Tal conto era fragmentado demais para fazer sentido ao casual ouvinte, mas o suficiente para lhe acender o ímpeto.


O brilho cromático e fantasmagórico simplesmente nascia por trás de Evangeline disparado por cima de seu ombro projetando-se contra o couraça robusta que protegia o peito da executora a causar uma pancada poderosa o bastante para jogar um homem comum para o outro lado da estrada.


O que quer que tenha se projetado contra a executora se mantinha imóvel na posição do impacto. O objeto vanescia como fumaça e luz tomando forma visível como uma haste ou uma lança, mas não demorava a se tornar evidente que se tratava de um tridente. E o indivíduo que o empunhava naquela posição com apenas uma mão esticada também tomava a forma de um homem alto de aproximadamente 2 metros, o corpo imponentemente forte e de longos cabelos ruivos como brasa que se apagava ao se materializar plenamente tal como um ser-humano de carne e ossos.


- Eu pretendia apenas continuar observando, mas... – O homem então trouxe o tridente para junto se si, apoiado com sua base no solo. Ela olhava a garota por cima com um sorriso branco e casual. – Se eu tiver presumido errado, então me desculpe interromper seu “destino”, mas eu tenho 87% de certeza que você quer durar um pouco mais... – Ele então fechou o sorriso e olhou desconfiado. – Eu estou certo, não estou? Essa minha entrada terá sido um desastre se você e eu não estivermos na mesma sintonia.


Percebendo a real chance de se frustrar agora ele esfregou a mão na testa se culpando pela imprudência. Então balançou a cabeça em revolta. – Ahr... Apenas recomponha-se! – Apontou-lhe o dedo. – Viver é um desafio e você é jovem e bonita demais pra ter tido o bastante, então pelo menos por agora apenas aceite ser minha “Praetor”. Feito, sim? – Sorriu novamente e confiante com uma piscada de olho.


Dando o devido tempo para sua mestra conceber o que acabava de acontecer o servant encarou a executora com olhar afiado e sorriso ferroz.


- O que será, Praetor? – Ele então girou o tridente em sua mão terminando por segura-lo com as suas pontas voltadas para o chão em clara postura ofensiva. – Eu apreciaria muito optar pelo combate, mas eu respeitarei sua condição se preferir a fuga.  


E terminou por segurar firme o tridente em suas duas mãos, desafiadoramente apontando-o em direção a executora.


- E você! É uma mulher dentro dessa casca, não é! – O sorriso feroz se acendeu em seus dentes. – Isso é desconfortável pra mim, mas se vou ter mesmo que lutar contra uma mulher, então pelo menos tente não reparar demais no meu enorme pênis!


Depois de tudo, agora é impossível não reparar que – em pesado contraste com sua potencial oponente e apesar da ríspida compostura do servo – ele estava completamente desnudo.

Tornava a erguer o rosto sem perceber que seu discurso alcançava pelo menos um de seus inimigos por ser algo muito sutil. As orbes azuis-celestes parcialmente cobertas pela bagunça de seus cabelos soltos mantinham-se focadas na cavaleira até perceber a movimentação do homem... Para atacar Gabriel. Mas... Não era ela o alvo? Por quê atacá-lo?

Fez força em uma das pernas para se pôr de pé, todavia os joelhos encontravam o chão novamente em vista da concentração de mistério que se aproximava de si a uma velocidade humanamente incompreensível. Não queria ser acertada por aquilo. A voz grave chegava-lhe aos ouvidos sem que ela respondesse por um tempo. Estava devidamente surpresa não só por não ter percebido-o antes, como por suas palavras terem surtido efeito em pelo menos alguém ali, alguém que nunca esteve em seus sonhos proféticos.

- "Praetor..." - Não era um termo romano para comandantes? Podia aceitá-lo de bom grado, se aquele homem estava propondo um contrato, aceitaria-o. Então de repente levava uma lição de moral do desconhecido. Olhou-o melhor agora... E virou o rosto para o lado rapidamente. Não teria percebido a nudez alheia se não fosse o comentário infame.

- Vo-você está correto! Meu comando é... - Estendeu a mão em direção a Gabriel. Antes que pudesse interceder em favor do aliado ou fazer sabe-se lá o que tinha em mente outra cavaleira surgia ali defendendo-o. Sorriu de canto ao confirmar o que supunha mais cedo... Aproveitaria o momento de confusão do inimigo para estudar como agiam, procurar uma brecha.

- Retirada. - Fez-se breve. Como bem dito antes eles não eram sua prioridade, não os atacaria no calor do momento com dois mestres debilitados; perder a ínfima vantagem que adquiriram em um piscar de olhos não era uma opção.

Infelizmente não conseguia nem mais correr, logo aceitava os favores sem relutância alguma. Estava em seu limite, o que lhe mantinha acordada era sua mais pura força de vontade. De fato não queria morrer ali, nem ver nenhum de seus amigos ser sacrificado.

- Ruivo! Vamos! - Quando o servo se aproximasse jogaria sua capa em cima dele para que ele se cobrisse. Só então inclinaria-se um pouco para à frente, quase caindo de seu assento.

- Kael! Pisa nesse acelerador! Por favor!

- E agora somos como uma família. – Comentava com um sorriso de graça quando os perseguidos se reagrupavam perto de si contando agora com a adesão de outra personagem vinda ao socorro de seu mestre. Sua recém intitulada praetor lhe tirava essa graça ao ordenar retirada.

- Mesmo depois de ganhar mais um reforço... Hmm, eu suponho que não posso me queixar da sua prudência, praetor. – Suspirou com ar pesado de desapontamento, mas ergueu a cabeça e sorriu novamente. - Como desejar. Conte comigo para cobrir sua fuga, eu lhe alcançarei sem falha.

Não se incomodaria de carregar heroicamente a praetor em seus braços, mas isso só lhe deixaria de guarda aberta, ela então estaria mais segura contando com seu próprio esforço para sair dali sozinha, ao menos tinha certeza de que poderia contar que ela se empenharia nisso enquanto ele fazia a sua parte.

A cavaleira estava pronta para iniciar o confronto exibindo seus poderes, tinha que admitir que era assombroso para uma humana, mas foi comandada a se afastar e prontamente atendeu o seu superior.

- Ah, então é você o comandante? – Direcionava a voz para o cavaleiro. – Teremos então um confronto digno, eu espero.

Pôs-se em guarda observando o que o sinistro cavaleiro preparava. Sua concentração observatória era parcialmente perturbada pelo mago ao seu lado a elaborar o que o cavaleiro provocava no espaço. Lhe era incomodo porque o mago falava em termos que não compreendia, talvez fizesse sentido no final, mas o cavaleiro lançou seu ataque antes que concluísse sua perspectiva. O ataque era rápido, mas nada assustador para o servo que estava confiante de suas habilidade, porem antes de confirmar isso a lamina se desintegrou antes de chegar neles.

- Ora... – Então olhou por cima do ombro para ver veículo dirigido por mais um aliado, este reforçava o apelo para baterem em retirada enquanto auxiliava sua praetor a entrar no carro. Ela própria lhe comandava para seguí-la. – Ahh... – Balbuciou em desapontamento. Deveria estar feliz com a retirada segura, ele compreendia que isso era bom, mas lhe faltaria a glória de medir forças com o inimigo antes disso. – Não tem jeito, não é?

Saltou para perto de sua mestra recebendo sua capa e ganhando ela em troca um sorriso de galhofa por entender que deixava a dama desconcertada demais com sua – grande – intimidade exposta a ponto dela se incomodar cobri-lo naquele momento. O servo envolveu a capa em sua cintura como uma toalha e pulou para a carroceira do carro mantendo-se de pé tal como se dirigisse um biga puxada por cavalos.

- Espero que a Fortuna nos conceda outro encontro para o combate! – Bradou com seu tridente erguido com sorriso rude voltado para o cavaleiro. O carro podia mover-se, mas o servo não perdia a compostura, mesmo sem contar com nenhum apoio. – Prometo que se esse dia chegar eu procurarei cumprimenta-lo adequadamente em campo.